tag:blogger.com,1999:blog-59579860192992851032024-02-21T01:54:34.323-08:00"Trouxeste a chave?"Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-7730654859276750982018-06-12T11:51:00.003-07:002018-06-12T11:52:39.044-07:00Poema Inquieto<div dir="ltr">
Quando nasci, um anjo maroto,<br />
desses que vivem à toa disse: "Vai"<br />
mas não me disse pra onde,<br />
e por isso ando por aí,<br />
de porto a porto,<br />
à procura de um eu<br />
que não sei onde se esconde...<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
Tantos caminhos já trilhei:<br />
da minha dor e angústia, só eu sei.<br />
E da ordem do anjo maroto<br />
me veio essa sina de não sossegar.<br />
Vivo ora aqui, ora acolá...<br />
Sou inconstante, mutante,<br />
e minha dor é variável,<br />
assim como meu amor.<br />
Meus pés me levam<br />
para onde a estada for...<br />
<br />
Ah, anjo maroto que me batizou!<br />
Pois se um dia eu me cansar<br />
de ser inquietude,<br />
vou ser gauche na vida...<br />
Ah, se vou! </div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-11744155249851173042018-06-02T16:03:00.000-07:002018-06-12T12:02:26.437-07:00Do Sangue (Soneto do Coração)<div dir="ltr">
Como seiva que corre e nutre a vida,<br />
como rio que entoa cantilenas,<br />
sou o fluxo vital, e que convida<br />
a amar, e a sofrer mais duras penas.</div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
Como o mel que adoça e sustenta,<br />
como o sêmen, que nutre a criação<br />
minha essência viscosa te alimenta,<br />
te invade, te transborda o coração.<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
Sou líquido que corre em tuas veias,</div>
<div dir="ltr">
minha essência é rubra e visceral.<br />
Sou o pulso vital que te incendeia.</div>
<div dir="ltr">
<br />
Eu sou o teu instinto animal,<br />
tua carne, teu desejo sem cadeias:<br />
Eu sou o teu pecado original!<br />
<br />
<br />
<br /></div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-36475867722293015192018-06-02T11:48:00.001-07:002018-12-03T16:03:07.015-08:00Da Terra (Soneto da Criação)<div dir="ltr">
Sou o início da vida, mãe primeva,<br />
é meu seio que a tudo alimenta:<br />
Sou Gaia, sou Deméter, Ísis, Eva,<br />
sou útero que nutre e que sustenta.</div>
<div dir="ltr">
<br />
De minha carne tiras pão da vida<br />
que sustenta tua força viril.<br />
E em troca da fartura oferecida<br />
recebo fome e ganância vil.</div>
<div dir="ltr">
<br />
Tua cobiça é vírus, e se espalha,<br />
produzindo miséria, praga e guerra,<br />
e eu, que ora fui berço, sou mortalha<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
pois quando a tua vida se encerra<br />
os teus ossos cansados da batalha</div>
<div dir="ltr">
adormecem no seio da mãe-terra.<br />
<br /></div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-48715846918662670052015-12-22T19:30:00.002-08:002015-12-22T19:31:40.162-08:00O sorriso de Giselle<br />Giselle pediu um poema<br />e eu, tola, concordei.<br />Pensei : “talvez um soneto,<br />com rigor metrificado”...<br />(um poema assim pedido,<br />com tanto cuidado e zelo,<br />é assunto delicado,<br />não é qualquer poemeto!)<br />Eis que, quando comecei,<br />vi-me diante de um dilema:<br />É que o sorriso de Giselle<br />é muito mais bonito<br />que qualquer tolo poema<br />que eu pudesse ter escrito.<br />O sorriso de Giselle<br />ilumina o infinito,<br />e não há verso torto<br />que possa descrever<br />a medida de conforto<br />que sorriso tão sereno<br />pode oferecer.<br />Pois eu lhes digo que a tristeza<br />alegrar-se-ia ao ver<br />o sorriso de Giselle<br />em toda a sua grandeza.<br />E não tem coisa mais linda,<br />não há nada que supere,<br />a ternura que não finda,<br />e a alegria à flor da pele<br />do sorriso de Giselle.<div>
<br /><i> Para Giselle Cardoso</i></div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-79200160410787124242015-04-14T18:24:00.001-07:002018-06-12T12:02:46.913-07:00Do Ar (Soneto Etéreo)<div dir="ltr">
Sou Noto: esculpo nuvens na alvorada,</div>
<div dir="ltr">
no anil e excelso pálio luminoso.</div>
<div dir="ltr">
Quando soprar a minha cálida lufada</div>
<div dir="ltr">
tu sentirás o meu abraço vaporoso.</div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
E quando corro, forte e altaneiro,</div>
<div dir="ltr">
e me espalho, incontido e insurgente,</div>
<div dir="ltr">
sou Euro: o que impele o veleiro</div>
<div dir="ltr">
ou arrebata o marinheiro de repente.</div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
Sou essência incorpórea e intangível</div>
<div dir="ltr">
e meu sopro é gélido e inclemente:</div>
<div dir="ltr">
me conhecem como Bóreas, o terrível.</div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
E então sou Zéfiro, o vento do poente:</div>
<div dir="ltr">
danço no espaço, etéreo e indefinível,</div>
<div dir="ltr">
anunciando a primavera iminente.</div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-41070084621633950622015-01-08T17:39:00.001-08:002018-06-12T12:03:02.739-07:00Da Água (Soneto do Rio)<div dir="ltr">
Como nascente de um rio caudaloso</div>
<div dir="ltr">
meu querer escorre em ondas cristalinas,<br />
se liquefaz em poesia e, generoso,<br />
deságua em mais amor, em verso e rima.</div>
<div dir="ltr">
<br />
Como água me sinto, fluindo serena,<br />
eu sou nascente, sou rio e correnteza:<br />
escorro e me derramo, doce e amena,<br />
mas não me prendo, nem aceito a represa.<br />
<br />
E, como o rio que corre em liberdade,<br />
eu sou a água que encontra um atalho;<br />
por entre as pedras deslizo incontida,<br />
<br />
e enfim deságuo no mar da eternidade.<br />
Como a onda que quebra, eu me espalho:<br />
de minha essência se alimenta a própria vida.</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-55492320767120970152015-01-08T15:49:00.000-08:002015-01-08T16:04:54.743-08:00Sobre memória e Neruda<div style="text-align: justify;">
Em 11 de setembro de 1979 alguém pegou este livro (Vinte poemas de amor e uma canção desesperada) e escreveu na página 65, a página em que está o poema número 20, um dos meus favoritos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quase 36 anos depois o livro vem para minhas mãos com essa e muitas outras inscrições do anônimo proprietário anterior.</div>
<div style="text-align: justify;">
É engraçado pensar que a nossa existência, por frágil e efêmera que possa parecer, deixa marcas das quais não nos damos conta. </div>
<div style="text-align: justify;">
Será que o anônimo do poema 20 pensou nisso quando escreveu? Será que passou pela cabeça dele, ou dela, que alguém que só nasceria nove anos depois daquele setembro um dia teria o mesmo livro nas mãos e se perguntaria, lendo a inscrição que acompanha um dos poemas mais tristes do livro, quem teria deixado aquela marca? </div>
<div style="text-align: justify;">
Como se chamava? Quem era? O que sentiu quando leu o poema, e quando pegou no lápis para escrever umas tantas palavras? </div>
<div style="text-align: justify;">
A memória tem dessas coisas, é toda feita de afeto. O livro vai continuar marcado como está, e eu vou continuar me perguntando quem foi o misterioso poeta da página 65. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A vida, amigos, é bonita que dói! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidcPhtUvCyYJS5SSC6_g393N0AVI_bge0OnYapm1vCPfY4MvjYsNczU9oQkTFcPfvZUIF36Qn7M4uifWmHcwyqasUwnLonxHIhpysGXHta9XlFje1WXqRpQC4L5-AOem1Y-l1gIJGOi64/s1600/10906579_794921600580467_8938053434899205931_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidcPhtUvCyYJS5SSC6_g393N0AVI_bge0OnYapm1vCPfY4MvjYsNczU9oQkTFcPfvZUIF36Qn7M4uifWmHcwyqasUwnLonxHIhpysGXHta9XlFje1WXqRpQC4L5-AOem1Y-l1gIJGOi64/s1600/10906579_794921600580467_8938053434899205931_n.jpg" /></a></div>
<br />Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-78658009722074887942014-09-16T05:45:00.001-07:002021-11-26T07:29:25.834-08:00Do Fogo (Soneto das Chamas)<div dir="ltr">
Sinto meu corpo em chamas consumido,<br />
a dor e o ardor fulminam minha mente:<br />
Meu cérebro se inflama, enlouquecido<br />
e o fogo me devora inclemente...<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
Ó delírio de arder que me alucina,<br />
em cujo calor quero me sublimar<br />
do inverno que me invade - me domina<br />
- e em fogo meus desejos expurgar.<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
Sonho em arder, queimar, ser consumida,<br />
como a fogueira (brasa se tornou),<br />
e em chamas calcinar a própria vida,<br />
<br /></div>
<div dir="ltr">
Mas se o fogo me arrasa, livre estou! <br />
Como a Fênix, das chamas renascida,<br />
das cinzas me refaço: fogo eu sou!</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-28626636825232415132014-09-15T19:43:00.001-07:002014-09-16T05:43:40.301-07:00Haikai febril<div dir="ltr">
Sou dor e amor.<br />
E, se a febre me invade,<br />
também sou ardor.</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-42737416163591667862013-12-11T17:24:00.002-08:002013-12-12T08:37:31.712-08:00A lição da Equilibrista (ou "Sobre vôos e quedas")<div style="text-align: justify;">
O que dizer da lição que nos ensina a equilibrista, que anda na corda bamba da vida porque sabe que viver é pendurar-se sobre o abismo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Viver é correr riscos! Equilibrista que se preze despreza a rede de segurança, e, na corda bamba da vida, se balança. Cai? Sim! Se machuca? Sempre! Mas equilibrista não se importa, cai e se levanta com a mesma graça (como se tivesse asas!) porque aprendeu que o segredo para <i>saber</i> voar é <i>saber</i> cair, se despedaçar, e, ainda assim, prosseguir!</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-72182565813339368172013-12-11T16:48:00.000-08:002013-12-12T03:58:59.726-08:00Decifra-me (ou te devoro)Não sou tão simples a ponto de ser desvendada,<br />sou criptograma, sou mistério, charada.<br />Quando você acha que me decifrou,<br />eu surpreendo: mudo, reinvento, me refaço. <br />Me desfaço, também, e me reconstruo. <br />Minhas plantas não são legíveis, <br />e é difícil compreender minha engenharia.<br />Você não conhece meus mecanismos, <br />e não consegue ler nas minhas entrelinhas.Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-39708046732108155272013-12-11T16:31:00.000-08:002013-12-11T16:31:06.516-08:00Sobre palhaços (e a difícil arte de fazer rir)<div style="text-align: justify;">
Ser palhaço não foi tanto uma escolha, foi quase uma imposição. Posição imposta pela vida, que me obrigou a mostrar sempre meu melhor sorriso, mesmo quando por dentro sou só pedaços… Palhaço se despedaça? Sim, senhor! Palhaço sente dor? Pois sim, meu amor! Palhaço sofre com um sorriso no rosto, e de tanto sorrir, sofre menos. Pois ser palhaço é profissão de risco: corre-se o risco de esquecer suas angústias, de tanto fingir que não as tem. Ser palhaço é ofício sério: o palhaço carrega nos ombros a grave missão de fazer feliz, mesmo quando sua própria alegria está por um triz… Ser palhaço é ofício difícil: dia sim, dia também, o palhaço vive para mostrar ao mundo que riso é remédio, que alegria é profilaxia, que amor cura… Amor dura? O palhaço não sabe. O palhaço só tem uma certeza: quem vive para fazer rir, vive mais… Mais dor, mais tristeza, mais alegria, mais beleza… Afinal, palhaço é feito de contradição… e, por isso mesmo, palhaço não morre: quando muito, adormece, se aconchega e se aninha no nosso coração.</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-31549647060709857282013-12-11T15:58:00.000-08:002013-12-12T09:43:57.536-08:00Sobre o fim<div style="text-align: justify;">
Tudo o que me restou dos últimos três anos foram migalhas, restos de naufrágio, cacos esparsos, remendos e ausências. No fim restaram o vazio, o silêncio e a lembrança, e são esses três os companheiros constantes de minha solidão. O vazio vem para me lembrar do que foi perdido, e chega, como sempre, sem anúncio. Começa com uma melancolia, uma angústia, um sentimento de não pertencer. Como a dor fantasma causada quando um membro muito importante é arrancado do corpo sem aviso. Quando o vazio vem, ele me leva embora, e eu me perco nesse abandono. Depois vem o silêncio, preenchendo o espaço deixado pelo vazio com todas as palavras que quiseram sair da minha boca, mas ficaram presas entre angústias e incertezas. Meu silêncio também me corrói, chega num rompante, anunciado pelo barulho ensurdecedor de todas as coisas não ditas e que eu queria, deveria dizer (e direi?). O silêncio vem dos gritos sufocados, e às vezes sinto como se me afogasse no meio de tantas, tantas palavras e instantes que poderiam ter sido. É que o silêncio vem sempre acompanhado do "e se...". Por fim, chega a lembrança, e, dos três, ela é a mais terrível e deliciosa, a que causa mais dor. A lembrança vêm sempre num fim de tarde, ou à noitinha, como uma criança que passou o dia fora de casa e volta correndo, sorrindo, pés sujos de lama e cabelos desgrenhados, pronta para dormir em mim. A lembrança vem me atormentar não com o que poderia ter sido, mas com o que foi. Fosse ela apenas amarga ou dolorosa, eu poderia facilmente mandá-la embora, tão logo me cansasse de sua presença. Mas a lembrança, ai de mim, vem doce e faceira, trazendo fragmentos de uma vida que vivi, momentos em que fui feliz, e amei. Esse é o truque que torna o abandono insuportável: por mais sofrido que seja lembrar daquilo que se perdeu, como deixar partir essa coisinha alada e colorida que embalou meus sonhos durante tantas noites para agora embalar meus pesadelos?</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas eu me remendo, me reinvento... Não sou de inventar pílula de esquecer: tudo o que eu vivi me pertence, para o bem ou para o mal, e eu clamo minhas todas as alegrias e aflições que me fizeram ser quem sou. Mas, logo que eu aprenda como viver com as ausências, hei de entender o que preciso fazer para ser capaz de, enfim, dizer em voz alta e com convicção que é o fim. E deixar partir. E seguir.</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-92211467433843693962013-08-07T20:19:00.000-07:002015-01-15T15:24:47.760-08:00Ninguém me disse que havia um manualNinguém me disse que havia um manual,<br />
e eu até achei que isso era normal.<br />
Não recebi nenhuma explicação,<br />
nem a mais pálida instrução para me guiar.<br />
Ninguém me disse que este coração<br />
só serve para se quebrar...<br />
Não me disseram qual é o código,<br />
onde fica o botão de ejetar?<br />
"Decifra-me ou te devoro"<br />
e eu nem sei o que há para decifrar.<br />
Nada me foi explicado,<br />
e eu ando cansado de procurar<br />
o tal do manual de instruções:<br />
acho que esqueceram de fabricar.<br />
Fui abandonado à sorte, esperando a morte<br />
para poder me desconectar.<br />
Não recebi nenhuma explicação<br />
nem a mais pálida instrução para me guiar.<br />
Por que será que esta voz imensa<br />
e esta vida intensa têm que acabar?<br />
Não me mostraram qual é a resposta,<br />
ou onde fica o botão para desligar.<br />
<br />Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-9884382190391228652013-06-26T16:59:00.000-07:002013-06-26T20:35:23.721-07:00Sobre...?- Então, você é escritora?<br />
Ela ri, balança a cabeça negativamente, e, por fim, responde:<br />
- Na verdade, não sei bem o que sou. Por isso, eu acho, é que escrevo: para tentar descobrir. Ou para tentar recordar.Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-38618007964878596222013-04-17T19:48:00.000-07:002013-04-17T19:48:15.363-07:00SaudadeDe vez em quando bate uma saudade esquisita e sem nome...<br />
Saudade de ser criança, correndo por aí, pés sujos, peito aberto e sem fôlego, rindo de tudo (e nada), cantando uma ciranda que fale de alecrim...<br />
<br />
Ê tempo, implacável tempo que tudo transforma! Pegou essa criança e levou embora.<br />
<br />
De vez em quando a criança que eu fui passa correndo por mim. E eu sinto uma saudade esquisita e sem nome, que tem cheiro de alecrim...<br />
<br />
<i>"Alecrim dourado</i><br />
<i>Que nasceu no campo</i><br />
<i>Sem ser semeado..."</i>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-21284463918720203012013-04-17T19:40:00.003-07:002013-04-17T19:42:12.623-07:00Ainda que seja tarde...Ainda...<br />Ainda que seja tarde,<br />este meu desejo arde,<br />como a chama da fogueira.<br />Te amei de tantas maneiras!<br />Ouve!<br />Ouve meu lamento:<br />ainda existe o sentimento<br />de que não acabou<br />nosso amor. Ainda ficou,<br />aqui na minha boca<br />a mesma vontade louca<br />de te beijar...<br />Quero te amar!<br />Teu amor me conforta!<br />Vou bater na tua porta<br />cheia de desejo,<br />querendo o seu beijo...<br />Ainda...<br />Ainda sou tua cigana,<br />quero estar na sua cama,<br />estou pronta pra te amar.<br />Estou pronta pra ser tua...<br />as estrelas e a lua<br />vão nos invejar.<br /><div>
<br />
<i>(em 06/12)</i></div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-33645369551944773192012-08-27T19:46:00.001-07:002013-06-28T21:03:41.124-07:00Essa coisinha alada e desdobrável<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjZvRmxuN7_1vv4ICRLjsWe_YgV59fuO9p4HPBw0iUbPUzn77Yj5ES3eaF-HObbPg5Med_vriIyk8qWV79__o2dVL-0VyrGG5ZevgIGZUwDqJ497KsKr25vugyjrV59trcrkBrkei0jVY/s1600/galathea.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjZvRmxuN7_1vv4ICRLjsWe_YgV59fuO9p4HPBw0iUbPUzn77Yj5ES3eaF-HObbPg5Med_vriIyk8qWV79__o2dVL-0VyrGG5ZevgIGZUwDqJ497KsKr25vugyjrV59trcrkBrkei0jVY/s320/galathea.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Quando uma coisa é muito importante, preferimos morrer junto com ela do que deixá-la morrer. Por isso lutamos tanto pelas "causas perdidas", por isso insistimos às vezes em trilhar os mesmos caminhos e chegar aos mesmos lugares. Nem sempre estamos dispostos a mudar, às vezes queremos apenas lutar por algo que nos é tão caro.</div>
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E algumas vezes temos que lutar para sermos quem somos. Às vezes temos quem lutar pelo direito de sermos aquilo que sentimos em nosso coração, nossa identidade.</div>
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A verdade é que somos mundos inexplorados, até para nós mesmos, mas principalmente para aqueles que julgam nos conhecer e entender. Não existe universo mais complexo e infinito do que nosso universo interno, para o qual, talvez, apenas nós mesmos temos o mapa. Ou não.</div>
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Eu não desisto facilmente de quem sou, mesmo que esse 'quem' que eu vejo, ouço, sinto e entendo seja apenas uma parcela do universo imenso que se esconde em mim. Luto pelo direito ao meu nome secreto, que me foi dado e por isso não pode ser tirado ou perdido, ou substituído.</div>
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Luto porque eu sou, sim, esta coisinha alada, desdobrável, mutável, colorida. Já fui lagarta? Sim, mas hoje me lanço no ar com minhas asas multicoloridas. Esta é quem eu sou!</div>
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Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-85528173890833513422012-08-21T18:48:00.000-07:002015-01-06T19:52:55.267-08:00Eu quero é chover<div style="text-align: justify;">
Tem dias que a gente se sente tão "assim-assim", tão "indo", tão "vou levando"... Tem sempre aqueles dias em que você sente que não está vivendo, mas sobrevivendo. Você come, bebe, anda, trabalha, dorme, mas sente que está apenas assistindo à própria vida, em uma tela de TV. Dias em que nos sentimos cinzentos e nublados, e tudo o que queremos é chover de uma vez, e mudar, e passar.</div>
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Nesses dias, meu desejo é dormir. Dormir, pura e simplesmente, de preferência sem sonhos, por uns 10 anos. Deixar passar: deixar passar a dor, a mágoa, a decepção, a tristeza, a ilusão. E acordar depois de tudo, e continuar.</div>
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Me chamem de covarde se quiserem, não me sinto covarde. Quero pular etapas, sim, porque dói! Porque eu sofro, e não quero sofrer, porque eu sou de carne! Quisera eu ser de mármore pra aguentar as porradas da vida, mas eu sou só carne, osso e coração, e tudo isso é tão frágil! Eu sangro! E quando isso acontece eu simplesmente não me sinto forte o bastante pra continuar, como se eu andasse por aí arrastando um peso enorme que me puxa pro chão e me tira a força de levantar. E aí eu me deixo afundar, pra esquecer, ou ser esquecida, e só. E fim.</div>
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Mas aí eu durmo. Não por 10 anos, como eu queria. Eu durmo uma noite, e sonho. E no sonho sou livre e feliz. E quando eu acordo eu sei que eu sou forte. Que a vida e as pessoas podem me atingir como quiserem, mas eu sou forte. Sou forte como tenho que ser, nem mais, nem menos. E eu sinto, e sei, que eu posso fazer o que é preciso: deixar partir o que deve partir, e lutar pelo que vale a pena.</div>
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Já aprendi com a vida o mistério de me reinventar a cada nova batalha. A força vem justamente da mudança. Deixa estar, por hoje. Vou sofrer e morrer, sim, mas é só por agora. E depois, nasço outra: mais forte, mais feliz, mais eu. Terá valido a pena sofrer. Como bem o disse Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."</div>
Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-84686650660230107452012-08-16T20:55:00.001-07:002013-06-28T20:49:19.250-07:00Do tempo e da espera<div>
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Amanhã é depois. Depois é tempo. Tempo é espera. De vez em quando dói, de vez em quando sangra, e de vez em quando o vazio vem morar aqui. Mas amanhã é espera.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando dói, é por um momento, depois passa. Espera. E silêncio, depois, vira canção. Espera. E o que foi vazio, um dia, vira certeza. Espera.<br />
<br /></div>
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No fim, tudo é espera. De vez em quando sangra e dói, mas passa. Tudo passa, eu fico. E espero.</div>
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Ainda há muitos amanhãs por acontecer... E amanhã é espera...</div>
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Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-56757822466906568162012-07-25T19:59:00.002-07:002012-07-26T08:44:57.974-07:00Soneto do Bem-querer<div><p>O amor que eu te der será tão pouco;<br>
quisera eu ter bem mais a oferecer.<br>
Te quero bem assim, amante e louco;<br>
te quero, e mais te quero merecer.</p>
<p>O amor que te dedico é tão singelo,<br>
tal qual a flor que nasce na invernada.<br>
É puro, imenso, e sendo assim tão belo,<br>
se faz em mais amor, em cada estrada.</p>
<p>De Deus (ou do destino) quero apenas<br>
amar-te, e viver sempre ao teu lado,<br>
ventura jubilosa ou duras penas...</p>
<p>Quisera eu ser bem mais, meu bem amado!<br>
Mas saiba: tenho em ti minh'alma plena,<br>
é teu meu coração apaixonado.</p>
</div>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-66011648116479475682012-07-25T19:07:00.000-07:002012-07-25T19:09:25.163-07:00Não é dor, é só espera...<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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De vez em quando, é preciso um pouco de vazio...</div>
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<br /></div>
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É preciso do vazio do papel em branco, para que se possa escrever. Só um campo vazio pode ser cultivado. Uma casa, sem o vazio entre suas paredes, não é uma casa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O vazio nada mais é do que espaço. O espaço é fundamental para a vida. Este vazio não é o nada: nada é nada, não existe. Este vazio existe, é apenas algo que espera ser preenchido. Hoje, sinto-me um vaso de barro, completamente oco: se você batesse nas finas paredes da minha alma, agora, ouviria apenas um eco. Mas é bom, de certa forma. É bom, porque meu vazio não é dor, é só espera. Porque eu sei que vai passar, que é só por agora, só enquanto durar este silêncio aqui dentro. Depois, como se subitamente voltasse a ser primavera, borboletas coloridas virão preencher minha alma.</div>
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<br /></div>
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Afinal, como já o disse Madre Teresa, "amor, se não doer, não é amor".</div>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-63577572955113069562011-06-09T12:22:00.000-07:002011-06-09T12:22:16.159-07:00Sobre os sonhos<div style="text-align: justify;">Nesses dias de muito trabalho e extremo cansaço, mais do que dormir, eu preciso sonhar. Sonhar que a vida não é tão difícil, que tudo vai dar certo. Sonhar em viajar, malas prontas e destino incerto. Sonhar que amanhã vai ter sol, que a cura do câncer vai ser descoberta e que eu vou ser mãe de dois meninos. Sonhar por sonhar. Sobretudo, sonho em amar, e em ser amada. Há quem diga que todas as noites são de sonhos... Talvez só as de verão. De minha parte eu sei que, no verão de minha mente, sempre há espaço para as noites de sonho.</div>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-40328722735791647562011-06-09T12:19:00.001-07:002011-06-09T12:19:43.375-07:00Sobre a Vertigem<div style="text-align: justify;">Mais de uma vez, no passado, eu fui muito amada por alguém. E mais de uma vez eu não pude corresponder a esse amor. Depois, chegou a minha vez de amar muito alguém que não me amava, e eu senti no meu coração o martírio antes infligido a outros. Mas, por mais difícil e doloroso que tenha sido, por mais cruel que tenha sido a paixão, a loucura, o desejo, a vertigem e, o pior, a queda, ainda assim vale a pena sentir. Mesmo que o amor seja uma delícia dolorosa, ou uma dor deliciosa.</div>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5957986019299285103.post-50230320498465101732011-06-09T12:17:00.000-07:002011-06-09T12:17:45.344-07:00Sobre Maria Antônia<div style="text-align: justify;"><i>No dia 27 de março de 2010 escrevi:</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;"><b>SOBRE ESPERAR </b></div><div style="text-align: justify;">Nasceu Maria Antônia, e eu me confesso ainda extasiada demais para falar sobre isso... </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>No dia seguinte, 28 de março de 2010...</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;"><b>SOBRE A VIDA </b></div><div style="text-align: justify;">Maria Antônia é linda. Não vou dizer que ela parece um anjo, pois não sei como são os anjos, mas se o céu é mesmo tão sublime Maria Antônia deve ser um pedacinho dele. Ontem segurei-a no colo, deitei a cabecinha dela no meu peito. Ela parecia ainda desacostumada de viver, respirava com certa dificuldade... Não sei se ela estava tão nervosa quanto eu, mas tentei acalmá-la o quanto pude. Coloquei em ordem os meus pensamentos, tentei desacelerar meu coração inquieto, tarefa difícil quando se está tão inebriada de vida. Eu ria por dentro segurando aquele pedacinho de coisa viva e pulsante. Era como segurar nas mãos um coração... Durante meses, a ideia de Maria Antônia cresceu dentro de mim, como se fosse um filho. Eu a gerava aqui dentro, dentro da minha alma. Assim, o nascimento de Maria parece ser um resgate de meu eu muito sublime, que eu nem sabia que existia...</div>Ayesha Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00572614340963531347noreply@blogger.com0