"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:

'Trouxeste a chave?'"

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Soneto do Bem-querer

O amor que eu te der será tão pouco;
quisera eu ter bem mais a oferecer.
Te quero bem assim, amante e louco;
te quero, e mais te quero merecer.

O amor que te dedico é tão singelo,
tal qual a flor que nasce na invernada.
É puro, imenso, e sendo assim tão belo,
se faz em mais amor, em cada estrada.

De Deus (ou do destino) quero apenas
amar-te, e viver sempre ao teu lado,
ventura jubilosa ou duras penas...

Quisera eu ser bem mais, meu bem amado!
Mas saiba: tenho em ti minh'alma plena,
é teu meu coração apaixonado.

Não é dor, é só espera...


De vez em quando, é preciso um pouco de vazio...

É preciso do vazio do papel em branco, para que se possa escrever. Só um campo vazio pode ser cultivado. Uma casa, sem o vazio entre suas paredes, não é uma casa.

O vazio nada mais é do que espaço. O espaço é fundamental para a vida. Este vazio não é o nada: nada é nada, não existe. Este vazio existe, é apenas algo que espera ser preenchido. Hoje, sinto-me um vaso de barro, completamente oco: se você batesse nas finas paredes da minha alma, agora, ouviria apenas um eco. Mas é bom, de certa forma. É bom, porque meu vazio não é dor, é só espera. Porque eu sei que vai passar, que é só por agora, só enquanto durar este silêncio aqui dentro. Depois, como se subitamente voltasse a ser primavera, borboletas coloridas virão preencher minha alma.

Afinal, como já o disse Madre Teresa, "amor, se não doer, não é amor".