quinta-feira, 9 de junho de 2011
Sobre os sonhos
Sobre a Vertigem
Sobre Maria Antônia
terça-feira, 29 de março de 2011
Não quero o silêncio!
Há algum tempo meu pai, escritor e poeta por vocação, mas não por profissão, escreveu um poema intitulado “Ao silêncio”, do qual destaco os seguintes versos:
“Não quero o silêncio culto e tácito
das bocas caladas pelo medo;
(...)
Não quero o silêncio assim imposto
como um tapa que arde no meu rosto!
(...)
Não quero a minha voz presa no peito
enquanto o mundo grita ao meu redor!
Eu quero decidir; é meu direito
e não lutar por ele é omissão!
(...)”
Ontem, durante um quadro no programa CQC o deputado Jair Bolsonaro fez declarações de cunho homofóbico e racista, algumas das quais dirigidas à cantora Preta Gil, negra, mulher, e defensora dos direitos dos homossexuais. Não vi o quadro no momento, pois não acompanho o programa. Porém, devido à ampla reação dos internautas contra as declarações do deputado, assisti hoje ao vídeo disponibilizado na internet (que já teve milhares de acessos). O que posso dizer é que me senti ofendida, enojada e indignada pelo que só posso chamar de uma falta de respeito, moral, decoro e cidadania. Sou afro-descendente, filha de mãe negra, e como tal me senti pessoalmente ultrajada pelas declarações racistas de Bolsonaro. Como e porque um negro e cotista não teria condições de pilotar um avião, ou realizar uma cirurgia, senhor Bolsonaro? Acaso a cor da pele, característica definida por uma meia dúzia de genes, pode qualificar ou desqualificar uma pessoa para exercer qualquer tipo de atividade? Sinto-me ofendida pessoalmente, em nome de minha mãe, negra, de meus avós, negros, em nome de minha família, todos negros! Sinto-me ofendida em nome dos meus antepassados, que sofreram as agruras da escravidão, que sentiram o peso do chicote estalando em suas costas apenas por serem negros, e que depois de livres tiveram que amargar séculos de pobreza e desigualdade. Senti-me ofendida em meu sangue, e em minha alma! Senti-me ofendida pelas declarações homofóbicas, pelo desprezo demonstrado pelo senhor, deputado, pelos homossexuais. Não sou homossexual, mas sou humana! E como ser humano, luto pela causa de um mundo sem preconceitos, sem juízos de valor, onde as pessoas se sintam iguais e livres. Em nome da causa da igualdade entre os homens, me sinto ofendida pela falta de respeito e decência demonstrada pelo deputado, ao promover publicamente o ódio aos homossexuais, e o desrespeito aos negros, quando, como figura política, deveria representar o povo como um todo! Sinto-me ofendida como afro-descendente, como militante pelos direitos dos homossexuais e principalmente como ser humano! As palavras de Bolsonaro vieram carregadas de racismo, homofobia, desrespeito e ódio. É lamentável pensar que depois de tantos séculos de preconceito, de perseguição, de injustiça e segregação, tenhamos caminhado tão pouco! É lamentável pensar que ainda estejamos tão longe de alcançar a “igualdade, a liberdade e a fraternidade” por que alguns lutaram há séculos! É lamentável pensar que enquanto há tantas pessoas inteligentes lutando por um mundo melhor e mais digno sem conseguir que sua voz seja ouvida, uma pessoa com um pensamento tão mesquinho e carregado de preconceito possa fazer ouvir sua voz com tamanha clareza! Porém pior seria se eu me resignasse e me calasse diante de tamanha demonstração de falta de decência, e, sobretudo, de humanidade. Não me calo! Eu grito! Grito de indignação, revolta, protesto! Grito para que minha voz seja ouvida acima das palavras vazias de respeito, porém cheias de ignorância do deputado Bolsonaro. Grito porque não posso suportar o silêncio. Não me permito calar minha voz diante de tamanha vilania! Grito, sabendo que minha voz se une em coro às vozes de milhares de pessoas, que também se sentiram indignadas e ofendidas, e que se sentem no direito de protestar contra o preconceito, o ódio, e a intolerância. Não nos calemos! Não vamos aceitar o silêncio! Vamos fazer ouvir nossa voz! Como disse Martin Luther King, um dos maiores defensores dos direitos das minorias, morto pelo ódio racial antes de ver suas conquistas se efetivarem e renderem como fruto a eleição do primeiro presidente negro norte americano, “Nossas vidas começam a morrer no dia em que calamos coisas que são verdadeiramente importantes.”. Não queremos o silêncio! Gritemos! E que nosso grito seja de liberdade, respeito e sobretudo, humanidade! Gritemos, e quem sabe assim possamos calar a voz de quem nada tem a dizer...
sexta-feira, 25 de março de 2011
As folhas em branco
Gosto de coisas novas, coisas brilhantes e recém-prontas, as novidades me excitam... Novas idéias, novos hábitos, novos passatempos... Em compensação, tenho uma certa repulsa pelo velho, pelo gasto, pelo usado... Talvez por isso eu tenha tanta aversão à ideia da velhice, mas suporte relativamente bem a ideia da morte. Crendo, como eu creio, na reencarnação, a morte abre uma possibilidade de uma nova vida, com cheirinho de nova, brilhante de nova, uma nova vida pra fazer tudo de novo. Lembro que, quando criança, adorava desenhar, e gastava resmas de papel fazendo rabiscos, cada folha um novo desenho, de novo, de novo, de novo... Minha mãe, muito prática, observou as implicações de tanta ostentação, e me apresentou a um calhamaço de folhas que ela chamou “folhas de rascunho”. Eram papéis velhos, usados, gastos, com um lado impresso e apenas um lado da folha em branco para que eu pudesse fazer meus desenhos sem tanto desperdício. Juro que tentei, mas cada vez que eu pegava uma das “folhas de rascunho”, as marcas, as dobras, as letras sobre o papel me desanimavam, tiravam toda a vontade de continuar desenhando, de modo que eu voltava sempre às folhas impecavelmente brancas recém-tiradas do pacote... Minha resistência à velhice passa por aí: o que fazer desta imensa folha já gasta e rabiscada que serei eu?
Contudo, ainda espero. Porque, da mesma forma que aprendi, com o tempo, a desenhar em folhas de rascunho, a vida, tenho certeza, ainda há de ensinar como fazer belos desenhos nas folhas já gastas da vida...
Coração de papel
Adoro desenhar. Gosto de ver traços sobre o papel se desdobrarem em linhas e formas. De vez em quando desenho semi-consciente, deixo a mão correr solta pelo papel em branco, divagando, num processo, assim creio, semelhante à psicografia. Numa dessas, eu fiz um desenho que me chamou à atenção no minuto em que eu reparei nele. Era uma moça, olhos puxados, cabelos cacheados... Parecia comigo, mas não era eu. Era uma moça bonita e triste, com olhos tristes que pareciam nem olhar pra você, mas para algum lugar dentro de você... ou dentro dela mesma, quem sabe. Era uma moça muito triste, e sem notar eu parei de rabiscar e fiquei ali, fitando o rosto triste da moça no papel, tentando adivinhar as razões da melancolia dela, e pensando no que eu podia dizer para consolá-la, e aí eu percebi que estava preocupada com a tristeza de uma moça num papel, um desenho que eu fiz sem saber nem querer... Minha mente racional pensou: “Loucura! O mundo é imenso, tem guerras em todo lugar, milhões de pessoas morrendo de fome e você se preocupa com um desenho qualquer num papel! Francamente!”. Meu eu verdadeiro respondeu: “E daí? Por que não deveria me preocupar com a tristeza da moça de papel?” Ela era tão real quanto todo o resto do mundo. Eu senti que era... Ela era triste e era de verdade. Ela era eu. E até hoje eu tenho essa maldita mania de sentir compaixão de pessoas feitas de papel e tinta...
Sum
Megalomania
Sobre a angústia...
Dúvida
Mas convém abrir a porta?