"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:

'Trouxeste a chave?'"

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Essa coisinha alada e desdobrável


Quando uma coisa é muito importante, preferimos morrer junto com ela do que deixá-la morrer. Por isso lutamos tanto pelas "causas perdidas", por isso insistimos às vezes em trilhar os mesmos caminhos e chegar aos mesmos lugares. Nem sempre estamos dispostos a mudar, às vezes queremos apenas lutar por algo que nos é tão caro.
E algumas vezes temos que lutar para sermos quem somos. Às vezes temos quem lutar pelo direito de sermos aquilo que sentimos em nosso coração, nossa identidade.
A verdade é que somos mundos inexplorados, até para nós mesmos, mas principalmente para aqueles que julgam nos conhecer e entender. Não existe universo mais complexo e infinito do que nosso universo interno, para o qual, talvez, apenas nós mesmos temos o mapa. Ou não.
Eu não desisto facilmente de quem sou, mesmo que esse 'quem' que eu vejo, ouço, sinto e entendo seja apenas uma parcela do universo imenso que se esconde em mim. Luto pelo direito ao meu nome secreto, que me foi dado e por isso não pode ser tirado ou perdido, ou substituído.
Luto porque eu sou, sim, esta coisinha alada, desdobrável, mutável, colorida. Já fui lagarta? Sim, mas hoje me lanço no ar com minhas asas multicoloridas. Esta é quem eu sou!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Eu quero é chover

Tem dias que a gente se sente tão "assim-assim", tão "indo", tão "vou levando"... Tem sempre aqueles dias em que você sente que não está vivendo, mas sobrevivendo. Você come, bebe, anda, trabalha, dorme, mas sente que está apenas assistindo à própria vida, em uma tela de TV. Dias em que nos sentimos cinzentos e nublados, e tudo o que queremos é chover de uma vez, e mudar, e passar.
Nesses dias, meu desejo é dormir. Dormir, pura e simplesmente, de preferência sem sonhos, por uns 10 anos. Deixar passar: deixar passar a dor, a mágoa, a decepção, a tristeza, a ilusão. E acordar depois de tudo, e continuar.
Me chamem de covarde se quiserem, não me sinto covarde. Quero pular etapas, sim, porque dói! Porque eu sofro, e não quero sofrer, porque eu sou de carne! Quisera eu ser de mármore pra aguentar as porradas da vida, mas eu sou só carne, osso e coração, e tudo isso é tão frágil! Eu sangro! E quando isso acontece eu simplesmente não me sinto forte o bastante pra continuar, como se eu andasse por aí arrastando um peso enorme que me puxa pro chão e me tira a força de levantar. E aí eu me deixo afundar, pra esquecer, ou ser esquecida, e só. E fim.
Mas aí eu durmo. Não por 10 anos, como eu queria. Eu durmo uma noite, e sonho. E no sonho sou livre e feliz. E quando eu acordo eu sei que eu sou forte. Que a vida e as pessoas podem me atingir como quiserem, mas eu sou forte. Sou forte como tenho que ser, nem mais, nem menos. E eu sinto, e sei, que eu posso fazer o que é preciso: deixar partir o que deve partir, e lutar pelo que vale a pena.
Já aprendi com a vida o mistério de me reinventar a cada nova batalha. A força vem justamente da mudança. Deixa estar, por hoje. Vou sofrer e morrer, sim, mas é só por agora. E depois, nasço outra: mais forte, mais feliz, mais eu. Terá valido a pena sofrer. Como bem o disse Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Do tempo e da espera


Amanhã é depois. Depois é tempo. Tempo é espera. De vez em quando dói, de vez em quando sangra, e de vez em quando o vazio vem morar aqui. Mas amanhã é espera.

Quando dói, é por um momento, depois passa. Espera. E silêncio, depois, vira canção. Espera. E o que foi vazio, um dia, vira certeza. Espera.

No fim, tudo é espera. De vez em quando sangra e dói, mas passa. Tudo passa, eu fico. E espero.

Ainda há muitos amanhãs por acontecer... E amanhã é espera...