"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:

'Trouxeste a chave?'"

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Eu quero é chover

Tem dias que a gente se sente tão "assim-assim", tão "indo", tão "vou levando"... Tem sempre aqueles dias em que você sente que não está vivendo, mas sobrevivendo. Você come, bebe, anda, trabalha, dorme, mas sente que está apenas assistindo à própria vida, em uma tela de TV. Dias em que nos sentimos cinzentos e nublados, e tudo o que queremos é chover de uma vez, e mudar, e passar.
Nesses dias, meu desejo é dormir. Dormir, pura e simplesmente, de preferência sem sonhos, por uns 10 anos. Deixar passar: deixar passar a dor, a mágoa, a decepção, a tristeza, a ilusão. E acordar depois de tudo, e continuar.
Me chamem de covarde se quiserem, não me sinto covarde. Quero pular etapas, sim, porque dói! Porque eu sofro, e não quero sofrer, porque eu sou de carne! Quisera eu ser de mármore pra aguentar as porradas da vida, mas eu sou só carne, osso e coração, e tudo isso é tão frágil! Eu sangro! E quando isso acontece eu simplesmente não me sinto forte o bastante pra continuar, como se eu andasse por aí arrastando um peso enorme que me puxa pro chão e me tira a força de levantar. E aí eu me deixo afundar, pra esquecer, ou ser esquecida, e só. E fim.
Mas aí eu durmo. Não por 10 anos, como eu queria. Eu durmo uma noite, e sonho. E no sonho sou livre e feliz. E quando eu acordo eu sei que eu sou forte. Que a vida e as pessoas podem me atingir como quiserem, mas eu sou forte. Sou forte como tenho que ser, nem mais, nem menos. E eu sinto, e sei, que eu posso fazer o que é preciso: deixar partir o que deve partir, e lutar pelo que vale a pena.
Já aprendi com a vida o mistério de me reinventar a cada nova batalha. A força vem justamente da mudança. Deixa estar, por hoje. Vou sofrer e morrer, sim, mas é só por agora. E depois, nasço outra: mais forte, mais feliz, mais eu. Terá valido a pena sofrer. Como bem o disse Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

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